16 abril 2009

GESTÃO - Revisitando o controle gerencial.

Professores da pós-graduação de Ciências Contábeis da Unisinos destacam a importância de se trabalhar conjuntamente os quatro sistemas de controle das empresas

Fonte: Portal Amanhã
Por: Carlos Alberto Diehl e Marcos Antônio de Souza*



Recentes estudos têm procurado entender por que ocorre falha na implementação de ações, sejam elas estratégicas, táticas ou mesmo operacionais. Dentre as várias causas, concluíram que a chave é a execução. Concluíram também que essa falha de execução ocorre prioritariamente pela falta de controle. Evidentemente, espera-se que as empresas tenham adequados sistemas de controle, formal ou informalmente estabelecidos. Então, por que eles não asseguram a execução?

Além do tradicional controle econômico-financeiro, formatado com base em informações contábeis, deve-se reconhecer que é preciso controlar outras variáveis que impactam o resultado, ainda que indiretamente.

A primeira delas é o conjunto crenças da organização, o pacote filosófico que é a base da existência da empresa. Inclui a missão (sua essência); os valores (coisas nas quais acredita e pratica); sua visão (aonde quer chegar no longo prazo, o que quer ser). Este conjunto de crenças molda o comportamento das pessoas. Podem parecer simples, mas são muitas vezes desprezadas nas empresas. Quando não, pouco disseminadas e praticadas. Podem ser comparadas com o alicerce de um prédio sobre o qual se edificam as construções: sem base, no primeiro tremor, a casa cai.

A segunda questão de controle está relacionada com as chamadas variáveis críticas, ou seja, aqueles indicadores fundamentais do negócio. Trata-se, como primeiro passo, de um conjunto mínimo de indicadores que incorpore informações básicas e permita ao dirigente guiar a empresa. Equivale a um painel de controle, onde se mostram as opções feitas, o rumo seguido, em que velocidade, se o rumo deve ser mantido ou corrigido. Embora pareça fácil estabelecer estes indicadores, eles devem ser pensados de tal forma que tenham significado para as pessoas da organização, incentivando-as e monitorando a melhoria do desempenho. Devem incluir também as informações contábeis, mas com conteúdo relevante.

Em terceiro lugar, deve haver limites. Ou seja, estabelecer até onde as pessoas, em nome da organização, podem agir. São definidos em dois termos: oportunidades de negócio e conduta. No primeiro caso, mantém o sentimento de empreendedorismo, de foco, evitando dispersão e gastos desnecessários de tempo e outros recursos. No segundo, evita problemas éticos, legais ou profissionais, que podem comprometer a reputação e continuidade da empresa. Regras claras, estabelecidas e revisadas de forma compartilhada, em geral atuam motivando as pessoas, pois definem limites claros; na falta delas, prevalece a inércia ou ações prejudiciais.

Por último, um toque de ousadia: monitorar as incertezas estratégicas e ambientais. As variáveis, que embora ainda tenham um quadro bastante nebuloso, podem mudar radicalmente a forma de se fazer negócios. E, neste campo, é importante não ter visão estreita. Na maior parte das vezes, a ameaça vem de fora do setor. Foi o caso, por exemplo, dos iPods, ameaça à indústria da música que nasceu na área da informática. Elas podem estar nas áreas de economia, globalização, cultura, tecnologia, entre outras.

Esses quatro sistemas de controle trabalham de forma conjunta. Podem e devem variar de intensidade e importância relativa ao longo da história da organização e respondendo ao ambiente. Naturalmente, mudanças significativas não podem ser mensais ou trimestrais. Como são controles de nível estratégico, devem ser pensados em longo prazo. A questão central que o gestor deve resolver entre esses sistemas é seu equilíbrio ao longo do tempo. Enquanto as crenças inspiram e motivam, as variáveis críticas restringem, evitando desperdício de esforços. E enquanto as incertezas estratégicas levam as pessoas a buscar oportunidades e descobrir tendências, os limites evitam extrapolar o aceitável e ético nessas buscas.

Como começar? Bem, em geral a ordem na qual os sistemas estão aqui apresentados é a ideal. No entanto, dependerá da organização, seu momento e seu setor de atuação. Se por exemplo, a empresa está em um negócio em que os riscos éticos são grandes, talvez começar pelos limites seja mais recomendado. Depois de implantados, o gerenciamento é constante e simultâneo.

Para esta estrutura de controle, o porte da empresa não é impeditivo. O que mudará são, principalmente, o número de variáveis, a complexidade, o grau de formalização e o modus operandi. Pequenas empresas podem trabalhar, por exemplo, com crenças pouco formalizadas, divulgadas oralmente e com pequeno número de variáveis críticas. A forma de operacionalizá-los depende dos recursos envolvidos. Qual momento melhor para começar? Que tal já?

*Carlos Alberto Diehl e Marcos Antônio de Souza são professores do Programa de Pós-Graduação de Ciências Contábeis da Unisinos.

15 abril 2009

TECNOLOGIA - Mercado dos fabricantes de computadores e celulares fica cada vez mais próximo.

Fonte: Fabiana Monte, editora-assistente do COMPUTERWORLD

São Paulo - Evolução tecnológica aproxima fabricantes dos dois tipos de equipamentos, que têm funções cada vez mais integradas.

Os mercados de atuação de fabricantes de computadores e de telefones celulares ficam mais próximos todos os dias, com a oferta de aparelhos que reúnem, cada vez mais, funções comuns aos dois segmentos.
Com isso, ganha força a possibilidade de tradicionais players do segmento de telecom entrarem em um nicho que até então era ocupado exclusivamente por fabricantes de computadores, como HP, Dell e Toshiba. A Nokia é um exemplo disso. O caminho inverso também é verdade, com a Dell insinuando que pode fabricar um smartphone e a HP, com seus iPaqs já há alguns anos.

A consultoria Gartner segmenta esse novo mercado em quatro categorias: notebooks, com telas entre 10 polegadas e 15 polegadas; netbooks, com tamanho de 7 polegadas a 10 polegadas; "Mobile Internet Devices" (MIDs), que têm entre 3,5 polegadas e 6 polegadas e, a seguir, os smartphones.

"Um bom representante da categoria dos mobile internet devices é o iPhone", exemplifica a analista Annette Jump.

Para ela, os notebooks e os netbooks são produtos que permanecerão sob o domínio dos tradicionais players de computação. As fabricantes de telecom deverão focar, por sua vez, nos MIDs e smartphones. "O segmento de MID é muito pequeno, mas veremos alguns fabricantes experimentando este mercado nos próximos 12 meses, mas ainda não vimos anúncios, somente especulação", completa.

Embora não confirme a entrada da Nokia no mercado de netbooks ou notebooks, Fernando Soares, gerente de portifólio da fabricante finlandesa, concorda que a aproximação entre os dois mundos é um caminho sem volta.

"Não sei dizer qual é o limite que cada uma dessas empresas vai colocar para si. Olhando do lado dos fabricantes de notebooks, a pergunta é até que tamanho vou diminuir o aparelho; do nosso lado a questão é até que ponto vou crescer nossos aparelhos", comenta.

Semicondutores na raiz da questão
Para Paulo Breviglieri, country manager da Qualcomm no Brasil, a evolução dos semicondutores é um dos principais elementos que impulsionaram essa aproximação entre os dois mundos.

Pelo raciocínio do executivo, os fabricantes de chips tiveram de desenvolver produtos capazes de oferecer as características mais buscadas atualmente pelos consumidores de equipamentos computacionais: conectividade embarcada; maior autonomia de bateria e alta capacidade de processamento. E compatíveis com aparelhos cada vez menores.

"Você tem num único chip funções computacionais, com capacidade de executar todos os aplicativos e sistemas operacionais de um computador, mas também tem funções de conectividade 3G", diz Breviglieri, referindo-se aos chips da nova família Snapdragon.

O primeiro dispositivo com esse processador foi lançado em Barcelona, no Mobile World Congress, pela Toshiba, mas outros dez fabricantes, segundo Breviglieri, estão trabalhando em mais de 15 projetos envolvendo o Snapdragon - o que demonstra o interesse em oferecer aparelhos com essas características.

Nas palavras do executivo da Qualcomm, o TG01, da Toshiba, é um "mais que um smartphone" - ou seja, é um MID, de acordo com a definição do Gartner. "Não vão deixar de existir computadores puros e celulares puros, porque eles vão atender a demandas específicas dos consumidores. Mas num cenário de convergência surgirão dispositivos computacionais móveis, com conectividade, pondera Breviglieri.

"Este ano deve ser o grande ano da mobilidade", prevê Vinícius Caetano, analista sênior de telecomunicações da IDC. Ele concorda que a aproximação entre computadores e celulares aconteceu em função da evolução tecnológica e da demanda dos consumidores. "Vai ser bom para o consumidor, que ganha fabricantes de informática no mundo dos smartphones e de celulares no mundo da informática", completa.
09/04/2009

CONSUMO - Para onde vai o dinheiro do consumidor.

Em 2009, a economia brasileira será sustentada por seu mercado interno. Um estudo inédito mostra como quase 2 trilhões de reais serão gastos neste ano



Dono da quinta maior população e do oitavo mercado consumidor do mundo, o Brasil se transformou nos últimos anos em uma das principais fronteiras de negócios das empresas no panorama global. Chineses e indianos à parte, ficou difícil ignorar dezenas de milhões de brasileiros alçados à classe média recentemente. Crescimento acelerado nas vendas internas e um estoque ainda gigantesco de pessoas a incorporar ao mercado de consumo fizeram a estrela brasileira brilhar mais fortemente no mundo dito emergente - e ajudaram a definir um novo papel do país no século 21.

Então, veio a crise econômica, e todos os prognósticos sobre o futuro dos emergentes foram para a gaveta. Passados seis meses, já é possível divisar alguns fatos em meio à névoa que ainda obscurece o cenário global. Fato um: o Brasil não escapou da confusão - nem seria razoável esperar o contrário. Fato dois: paradoxalmente, a crise pode até acentuar a ascensão brasileira. Lá fora, o cenário continua sendo de quase depressão. Estima-se que o gasto total das famílias americanas tenha caído 5% no último ano - e as previsões são ainda piores à frente. Resultados igualmente sombrios são recorrentes em quase todas as áreas ricas do mundo. Por aqui, o mercado consumidor não apenas permanece robusto - a alta nas compras foi de quase 6% no último ano - como vem se transformando no principal alicerce da economia brasileira neste duro ano de 2009. Esse mesmo mercado pode ser também o fator primordial para colocar o Brasil no pelotão de frente quando os bons ventos voltarem a soprar.







É exatamente isso o que mostram dois estudos exclusivos obtidos por EXAME. Lidos conjuntamente, servem como um mapa do consumo para este ano, evidenciando quem deve ganhar espaço e quem deve ficar para trás na divisão do bolo. Uma das principais conclusões é que o mercado interno será determinante para o estado geral da economia brasileira. Tradicionalmente, os economistas apontam como principais "motores" econômicos as vendas para o mercado interno, as exportações e os investimentos. Até o ano passado, o crescimento do mercado interno caminhou junto com a aceleração dos investimentos das empresas e das exportações do país - e isso tornou possível o avanço do PIB acima de 5% em 2007 e em 2008. Desde a eclosão da crise, porém, o sinal mudou. Muitos investimentos, atingidos pela contração internacional do crédito e influenciados pela piora do cenário geral da economia, já foram postergados. As exportações, por sua vez, estão em franca desaceleração. Mas o consumo das famílias não necessariamente obedece à mesma lógica e pode ser a grande fonte de notícias positivas no Brasil.

Responsável por 60% de toda a riqueza produzida no país, o consumo atingiu 1,8 trilhão de reais em 2008. Segundo a consultoria MCM, autora de um dos estudos repassados a EXAME, mesmo em um cenário pessimista (de retração de 0,5% da economia), os gastos das famílias devem apresentar um pequeno crescimento em relação a 2008, de 2,4 bilhões de reais. Significa dizer que, no pior quadro imaginado para 2009, o mercado consumidor brasileiro irá repetir, com alguma folga, o desempenho do ano passado, um dos melhores da história. Numa projeção mais otimista, os números deste ano podem ser mais vistosos - e até mesmo bem mais vistosos, dependendo do setor em questão. A heterogeneidade setorial, aliás, é uma das marcas registradas de 2009. Entre os setores de perspectiva mais positiva está o de supermercados e hipermercados, que deve crescer 5,3%, praticamente repetindo a taxa de 2008. O varejo de produtos farmacêuticos também apresenta taxas de crescimento altas - neste ano, deve crescer mais de 12%. Esse desempenho coincide com a popularização dos remédios genéricos e o aumento da capacidade de consumo das classes mais baixas, que não tinham acesso a medicamentos. Junto a isso, as grandes redes de drogarias modernizaram o segmento, introduzindo a venda de novos produtos, como cosméticos. Já para a venda de carros, motos e combustíveis - apesar do efeito positivo até agora do corte temporário de impostos, ampliado até o final de junho pelo governo -, a previsão é de retração.

O que explica resultados tão díspares? Em larga medida, as reações do consumidor brasileiro ante o cenário mais difícil. Desde janeiro, o desemprego encontra-se em alta, e ele - ou sua mera perspectiva - talvez seja o fator que mais influencia a forma como as pessoas gastam seu dinheiro. "O nível de emprego deve ser a grande preocupação neste ano, seja para o cidadão, para as empresas ou para o governo", diz o economista e consultor Nelson Barrizzelli, professor da Universidade de São Paulo. De acordo com o estudo da MCM, a taxa de desemprego no país deve subir para 10,5%, ante os 7,9% registrados no ano passado, quando atingiu o nível mais baixo desde 2002. Ocorre que o enfraquecimento da atividade econômica não afeta apenas quem perde o emprego. Boa parte das pessoas que permanecem empregadas também reage à situação, consumindo menos ou alterando hábitos e prioridades de compra. "É natural que o consumidor se torne mais cauteloso em tempos de crise", afirma o consultor Olavo Cunha, sócio do escritório brasileiro do Boston Consulting Group. "O medo faz com que ele adie gastos, poupe mais, desista de fazer dívidas."

Uma das primeiras mudanças de hábito do consumidor é o corte de produtos supérfluos. Portanto, tende a sofrer menos quem produz bens e serviços considerados essenciais, como alimentos, remédios, artigos de higiene pessoal e de limpeza doméstica. Não estranha que o setor de supermercados e hipermercados seja um dos líderes de crescimento em 2009, segundo as projeções da MCM. Mas é preciso cuidado com conclusões apressadas. Um produto considerado supérfluo por alguém pode ser essencial para outro. Um consumidor de classe média pode até adiar uma viagem em razão da crise, mas só em último caso altera sua cesta de alimentos e produtos de higiene pessoal. Já para pessoas de classe de renda mais baixa, que tiveram acesso recentemente a certos produtos, bens como iogurte ou condicionador de cabelo podem ser considerados supérfluos e cortados da lista. "Trata-se do famoso efeito ‘escadinha’, em que cada pessoa dá um passo abaixo na lista de prioridades com o objetivo de diminuir despesas", afirma Markus Stricker, vice-presidente da área de consumo e varejo da consultoria A.T. Kearney.

Mudanças de comportamento do consumidor como essas acabam gerando uma espécie de redução em cascata na qualidade do consumo. Mas, como por enquanto tudo indica que o fluxo de consumo permanecerá fluindo, também é esperado que pelo menos um bom pedaço de cada degrau seja preservado. Posicionar-se para aproveitar o máximo possível da parte do consumo que será mantida em cada setor e para acompanhar as alterações de hábitos será fundamental para as empresas. Terão mais sucesso as que conhecem bem seus clientes e forem mais ágeis nas adaptações necessárias. "Além de considerar dados como emprego, renda e crédito, é preciso lembrar que o consumo nada mais é do que a concretização das necessidades e dos desejos das pessoas", afirma Luiz Lazzarini, diretor do instituto de pesquisas de mercado Nielsen. São essas necessidades e desejos que se transformam em pacotes de açúcar, pares de sapatos, carros ou frascos de perfume levados do varejo para casa.

A crise deve produzir reações curiosas. Uma das tendências esperadas é que as pessoas, especialmente das classes B e C, passem mais tempo em casa e transfiram um pouco mais de recursos para o lazer doméstico. As famílias dessa faixa poderão optar por ir menos vezes à praia ou cancelar uma viagem de férias, mas podem compensar parte dos desejos frustrados fazendo a troca do aparelho de TV ou a assinatura de um pacote de televisão paga com internet rápida. Algumas empresas já estão se movimentando para tentar aproveitar essas mudanças do mercado. A espanhola Telefónica anunciou que investirá 2,4 bilhões de reais no país neste ano, um montante 20% superior ao de 2008. A maior parte dos investimentos irá para a construção de infraestrutura de serviços de internet por banda larga e televisão por assinatura. "Nossos investimentos são de longo prazo de maturação e o Brasil é um dos mercados em melhor situação entre os que atuamos, especialmente se compararmos com a Europa e a América do Norte", afirma Antonio Valente, presidente da Telefónica no país. A empresa está testando um grupo de produtos batizado de lar digital. Um deles funcionará como um iPhone fixo, permitindo a navegação na internet com o telefone fixo. Outro novo serviço integrará aparelhos da casa, que poderão ser acessados pelo telefone e pela internet.

Quem pretende decifrar o comportamento do consumidor deve olhar com especial atenção para o panorama do crédito, um elemento vital para a reativação econômica. Logo após a eclosão da crise, o que se viu foi uma combinação perversa de dois fatores. De um lado, empresas e bancos se tornaram muito mais relutantes em conceder empréstimos, com medo de calotes. De outro, o próprio consumidor passou a fugir do crediário. Isso tudo faz com que os setores dependentes de financiamento sofram mais do que outros. A situação da Honda, por exemplo, deixa claro o impacto da redução do crédito. "Imediatamente após o início da crise, tivemos perda de 50% nos financiamentos em razão do excessivo rigor nas análises de créditos", afirma Roberto Akiayama, diretor comercial da Moto Honda da Amazônia. O resultado foi uma drástica redução no volume de vendas, de 120 000 para 90 000 motos por mês. A Honda registrou queda de 40% nas vendas nas regiões Sul e Sudeste e redução de 12% nas demais, desde novembro.

Apesar de tais resultados, a expectativa para o crédito é ainda positiva: o fluxo deve aumentar nos próximos meses e, segundo estimativas, o volume disponível para o consumo em 2009 deve ser superior ao de 2008. "A queda da taxa Selic e a ajuda do Banco Central para o crédito concedido pelos bancos de médio porte devem estimular a injeção de mais recursos nas áreas de consumo", afirma Robson Gonçalves, consultor da FGV Projetos. A volta a essa normalidade é ansiosamente aguardada pelo setor de eletroeletrônicos e informática. Nos dois primeiros meses do ano, as vendas de aparelhos de linha branca, que incluem fogão, refrigerador, lavadora de roupas e micro-ondas, caíram 34% em relação ao primeiro bimestre de 2008. De acordo com Gisela Pougy, diretora da GfK, empresa que audita vendas no varejo de eletroeletrônicos, desde o início do ano já houve certa flexibilização do crédito, com impacto em alguns segmentos. A GfK registrou crescimento de 123% nas vendas de televisores de tela fina e de 30% nas de aparelhos de GPS para carros no primeiro bimestre - números que claramente destoam de um cenário de recessão e que mostram que há espaço para crescimento das vendas. "O bolso do consumidor é um só", afirma Gisela. "Ele valoriza as novas tecnologias e tende a optar pelo que lhe parece mais útil."

Para as empresas, uma variável importante é a área geográfica de atuação. De acordo com um estudo da Target Marketing, empresa que projeta o potencial de consumo brasileiro, a Região Sul deve ser a que mais perderá potencial de consumo ao longo do ano, algo em torno de 2,7% em relação ao registrado no ano passado. "Os estados do Sul são grandes fornecedores de produtos para exportação, tanto do agronegócio quanto de manufaturados, justamente a frente que mais desempregou devido à queda da demanda internacional", afirma Marcos Pazzini, diretor da Target. O Sudeste, que responde por mais da metade de todo o consumo do país, deve registrar uma queda de quase 1% no potencial de compra. Apesar de concentrar o maior polo industrial e exportador do país, o Sudeste sofre menos pela diversificação de sua economia. Boa parte da população trabalha no comércio ou em serviços, que devem sofrer menos baixas de emprego.

Por outro lado, a Região Norte deve ganhar 6% em potencial de consumo, e a Região Nordeste, 3%. A explicação para o desempenho positivo está no fato de que parte significativa da população dessas regiões tem renda atrelada ao salário mínimo, que vem tendo reajustes acima da inflação, além de concentrar um contingente importante de beneficiários da Previdência Social e do Bolsa Família, que garantem renda mesmo em períodos de crise. O Nordeste, que representa quase um quinto do consumo do país, mais que o triplo do consumo dos estados do Norte, tornou-se um polo de atração de negócios. No ano passado, o conjunto de estados nordestinos ultrapassou o Sul no ranking regional de consumo e agora só fica abaixo do Sudeste. "Já inauguramos uma loja neste ano em Recife e manteremos a expansão da rede de lojas próprias na região", afirma Mark Pitt, presidente da fabricante de tintas Sherwin Williams no Brasil. Nos últimos cinco anos, a subsidiária da companhia americana abriu 23 lojas no Nordeste, única região do país em que opera também no varejo. Segundo Pitt, alguns investimentos em infraestrutura, combinados com a chegada de novas empresas à região e ao próprio Bolsa Família, proporcionaram um crescimento mais robusto da economia nordestina. "Provavelmente meu cliente não ganha o Bolsa Família, mas faz parte da cadeia econômica que é afetada pela injeção desses recursos."

O Bolsa Família, aliás, ajuda a explicar por que o consumidor de classes mais baixas de renda deve sofrer proporcionalmente menos. Já nas classes mais altas, um conjunto ruim de fatores faz com que o impacto da crise seja maior. A maior parte do desemprego até aqui ocorreu na indústria - onde o salário médio é mais alto. É por isso que um dos segmentos mais afetados é a classe chamada de B2, onde, segundo a classificação da consultoria Target, a renda média é de 2 300 reais. Também devem se retrair os consumidores mais ricos, membros da classe batizada de A1 - neste caso, em larga medida, pelo impacto das perdas no mercado financeiro. Entre as ganhadoras, a classe E sobressai por crescer mais proporcionalmente - 33% - em potencial de consumo. Porém, sua relevância no total consumido no país é ínfima, 0,4%.

O fato é que, numa análise mais ampla, graças ao mercado interno a economia brasileira ainda pode se sair relativamente bem. "A verdade é que, felizmente, a crise não se espalhou por todos os setores", afirma Antonio Cássio dos Santos, presidente da seguradora Mapfre. Não se trata de ignorar a gravidade do problema, mas de colocá-lo em sua real dimensão. Uma crise no consumo só ocorrerá se surgirem surpresas gravíssimas e houver desemprego em massa, cenário que hoje parece remoto. O fator psicológico tem um papel relevante e difícil de prever. "Nos Estados Unidos, uma crise de fundamentos econômicos gerou a crise de confiança", diz Santos. "Espero que, aqui, a crise de confiança não provoque uma crise de fundamentos." Apesar de tudo o que se fala sobre a crise, o consumidor ainda mantém o desejo - e tem a necessidade - de consumir. Em tempo de ventos desfavoráveis e de quedas assustadoras nas vendas mundo afora, essa disposição do brasileiro tem tudo para fazer a diferença.

Fonte: Portal EXAME

14 abril 2009

ECONOMIA - Mercado reduz novamente a previsão do PIB.

Fonte: Fabio Graner, da Agência Estado

Pesquisa do Banco Central, que ouviu cerca de 80 analistas, aponta para uma queda de 0,30% do Produto Interno Bruto brasileiro em 2009


Pela sexta vez consecutiva, o mercado financeiro promoveu mais uma redução na estimativa de desempenho da economia brasileira em 2009. Segundo a Pesquisa Focus, divulgada na manhã desta segunda-feira pelo Banco Central, a mediana das previsões de aproximadamente 80 analistas prevê retração de 0,30% do Produto Interno Bruto (PIB) este ano - ante uma expectativa de queda de 0,19% da pesquisa anterior. Há um mês, o mercado estimava alta de 0,59%. Para 2010, os analistas seguem trabalhando com crescimento de 3,5% para o PIB.

Em relação à produção industrial, o mercado também ficou mais pessimista, prevendo agora queda de 3,56%. Na semana passada, a contração estimada era de 3,06%. Ainda que os números negativos tenham ganhado destaque, para 2010 os analistas continuam esperando alta de 4% na produção industrial.

13 abril 2009

EDUCAÇÃO - Nós nunca estudamos tanto.

Fonte: Portal EXAME

O ingresso de uma nova geração de consumidores quintuplicou o bilionário mercado brasileiro de ensino superior - que hoje movimenta 25 bilhões de reais por ano - e está mudando o perfil das instituições do país


No dia 9 de março, os executivos do grupo americano de ensino DeVry, com sede em Chicago e faturamento de 1 bilhão de dólares em 2008, encerraram uma busca que levou dois anos. Após pesquisar uma centena de países, eles encontraram no Nordeste brasileiro o destino para dar seu primeiro passo fora da América do Norte. Com investimento de 55 milhões de reais, o grupo arrematou 70% da Faculdades Nordeste (Fanor), com 10 000 alunos em cinco campi, no Ceará e na Bahia. O movimento do DeVry é a mais recente demonstração do interesse de investidores estrangeiros pelo mercado brasileiro de educação. O pioneiro foi o também americano Laureate, em 2005, com a compra do controle da rede de faculdades Anhembi Morumbi, de São Paulo. Um ano mais tarde, a americana Whitney International University adquiriu participação majoritária na Faculdades Jorge Amado, de Salvador. Representantes do Apollo, o maior grupo de educação do mundo, com receita de 3 bilhões de dólares em 2008, também vêm visitando o país em busca de oportunidades. "O mercado brasileiro ainda possui um grande número de estudantes potenciais para graduação, e a consolidação deverá continuar mesmo em meio à crise", diz Carlos Alberto Guerra Filgueiras, atual presidente e um dos fundadores da Fanor, criada em 2001 por um grupo de investidores interessados nas altas taxas de crescimento do setor.

Assim como Filgueiras, os estrangeiros foram atraídos por uma massa crescente de novos consumidores de educação no Brasil. Na última década, o número de alunos de graduação em escolas privadas no país passou de 1 milhão para cerca de 4 milhões (veja quadro na pág. 45). Na última década, o mercado quintuplicou seu valor e deverá movimentar neste ano 24 bilhões de reais. Boa parte desse crescimento pode ser creditada à ascensão da classe C - parcela da população com renda familiar mensal entre 1 000 e 4 600 reais, segundo o Ipea, e que até pouco tempo atrás era praticamente excluída do ensino superior. "Hoje os alunos da classe C representam a maior parte dos novos estudantes dos cursos de ensino superior no país", afirma Renato Souza Neto, diretor da PRS, empresa de consultoria educacional que mantém com o pai, o ex-ministro da Educação Paulo Renato Souza. O ingresso desses consumidores não apenas possibilitou a criação de grandes grupos de educação no país como também tem exigido uma transformação do modelo de negócios das universidades. "Até pouco tempo atrás, esses grupos ofereciam apenas cursos de graduação tradicionais", diz Ryon Braga, diretor da consultoria especializada em educação Hoper. "Agora, eles estão criando modelos de negócios para atender às demandas dos novos alunos." Na prática, isso significa que as instituições precisam sanar três necessidades básicas ao oferecer um curso: que ele ajude o aluno a progredir na carreira, que seja próximo de casa ou do trabalho e que caiba em seu bolso.

Uma das tendências que despontam nesse contexto é a expansão dos cursos tecnológicos, com nível de graduação e duração de dois a três anos. Hoje existem cerca de 400 000 alunos desses cursos no país - menos de 10% do total de graduandos. Ainda se trata de uma participação pequena, sobretudo se comparada à média americana, em que 56% dos alunos de graduação frequentam cursos de curta duração. Mas o percentual brasileiro vem progredindo num ritmo acelerado. A consultoria Hoper projeta que o número total de alunos chegue a 490 000 até o final deste ano. Uma das instituições que investem nesse mercado é a Fanor, que desde 2008 oferece cinco cursos tecnológicos, como construção de edifícios e produção de eventos. "Devemos investir cada vez mais na expansão desse modelo", diz Filgueiras, que já programou a abertura de 30 novos cursos desse tipo nos próximos dois anos.

Alguns grupos fizeram um movimento de adaptação à nova demanda de forma ainda mais radical, como o Anhanguera, um dos maiores do país, com receita de 630 milhões de reais entre janeiro e setembro de 2008. Fundado em 1994, o grupo seguiu até recentemente apenas com cursos de graduação. O movimento mais relevante para mudar seu perfil ocorreu em julho, com a aquisição de 30% da rede de ensino profissionalizante Microlins, com sede em Valinhos, no interior de São Paulo, por 25 milhões de reais. Hoje o grupo possui 220 000 alunos na graduação e mais de 500 000 matriculados na Microlins, que oferece cursos técnicos específicos, como formação para garçons e operadores de telemarketing, com mensalidades de 75 a 120 reais. "Ter clareza sobre o perfil de nosso consumidor ajudou a direcionar a estratégia de investimentos", diz Antonio Carbonari Netto, presidente da Anhanguera, que investiu 300 milhões de reais em aquisições só em 2008.

Para atender aos quesitos de conveniência e preço exigidos pelos novos consumidores, boa parte dos grupos brasileiros planeja sustentar sua expansão por meio da educação a distância. De acordo com projeções da consultoria Hoper, trata-se de um modelo com potencial de crescimento de 230% nos próximos três anos, quando deverá atingir
2 milhões de alunos no Brasil. Além de permitir a expansão rápida para o interior, a educação a distância torna o ensino mais acessível à população de baixa renda. Um curso de graduação a distância custa em média 168 reais por mês, ante 457 reais de um tradicional. A expansão da educação a distância também deve ajudar no crescimento dos cursos de pós-graduação no país. Essa é a aposta, por exemplo, da Anhanguera, que comprou a paulista LFG no ano passado. A escola oferece cursos a distância que vão da preparação para exames da OAB a MBAs.

Segundo especialistas, a expansão da pós-graduação é também uma consequência natural do crescimento do número de formandos. Em alguns grupos, o aumento de matrículas já é maior no caso dos cursos de pós-graduação do que na graduação. É o caso do paranaense Positivo, que faturou cerca de 1,3 bilhão de reais em 2008. Neste ano, o Positivo abriu 36 novos cursos de pós-graduação, dobrando a oferta. "Muitos deles são voltados para mercados que se expandiram recentemente, como no caso da pós-graduação voltada para o mercado de etanol", afirma Oriovisto Guimarães, fundador e presidente do conselho de administração do grupo. Estimativas indicam que o número de alunos de cursos de pós-graduação passe dos atuais 600 000 para 2 milhões em três anos.

Para que boa parte dessas projeções de crescimento se concretize, será fundamental que o crédito educacional decole no país. Por enquanto, apenas 3,7% dos alunos matriculados usam esse sistema para financiar seus estudos, mas especialistas estimam que esse índice pode chegar a 30% até 2012 - nos Estados Unidos, mais de 70% dos graduandos financiam seus cursos. Recentemente, a Ideal Invest, primeira empresa criada no mercado brasileiro para crédito educativo, traçou um perfil dos estudantes que já financiam seus estudos. Em geral, eles ganham menos de dois salários mínimos por mês, a maioria - 63% - trabalha e 78% compõem a primeira geração de sua família num curso de graduação. Diante dos números do mercado potencial, aos poucos as próprias universidades começam a facilitar o crédito. Um exemplo é o grupo Kroton, que tem entre os fundadores o ex-ministro Walfrido dos Mares Guia. O Kroton já oferece hoje o Pravaler, da Ideal Invest, e está elaborando outro produto com o Unibanco. Atualmente, apenas 15% dos alunos do Kroton possuem financiamento. "Numa de nossas unidades, 65% dos alunos que ingressam nos cursos indicam que querem financiamento estudantil. Fizemos uma análise com uma instituição financeira e quase 70% desses alunos interessados já têm o crédito pré-aprovado", diz Walter Luiz Diniz Braga, presidente do grupo Kroton.

A consolidação do setor, tanto com a chegada de grupos estrangeiros como com o avanço dos grupos nacionais, deverá continuar aquecida neste ano. As possibilidades para fusões e aquisições são enormes - hoje, cerca de 70% do mercado de graduação está nas mãos de pequenas instituições de ensino. Segundo Luciano Campos, analista da Itaú Corretora especializado em educação, muitas escolas que abriram as portas na onda da expansão do setor - mais de 1 300 novas instituições surgiram entre 1997 e 2007, numa média de duas escolas por semana - deverão ser engolidas por outras mais fortes. A expectativa é que essa expansão melhore a posição do Brasil no ranking mundial de presença do ensino superior, elaborado pela Unesco. Hoje o percentual de brasileiros em cursos de graduação é um dos menores do mundo - apenas 20% da população que poderia estar na universidade de fato frequenta os bancos escolares. Países vizinhos, como Argentina e Chile, estão muito à frente, com 61% e 43%, respectivamente. "Temos um longo caminho a percorrer, mas estamos na direção certa", diz Braga, da consultoria Hoper.



INEX
| PORTO ALEGRE | SÃO PAULO | BRASIL
www.inexestrategia.com.br