Há alguns anos tenho desenvolvido uma insônia irritante. Em parte pelo meu amor à cafeína, por outro lado, pelo fato de teimar em ler e/ou ver filmes antes de dormir, já que é o único momento do dia que tenho livre. Porém, há duas semanas, é um humilde livro de bolso de 64 páginas que tem me tirado o sono. E isso me tem feito feliz.
O livro é de um autor que até então me era desconhecido, o australiano Roman Krznaric. Nome estranho, mas um escritor pragmático, com uma prosa muito simpática, que consegue a proeza de ser ao mesmo tempo leve enquanto cutuca feridas. O livrinho em questão chama-se Work and the Art of Living, cuja tradução em português é o título desse artigo. Nele o autor questiona a máxima de Mark Twain, que afirma ser o trabalho um mal necessário a ser evitado. Krznaric afirma, por meio de um mergulho em reflexões culturais, históricas e psicológicas, justamente o contrário – trabalho pode sim ser prazeroso. E mais: pode enriquecer nossa alma.
Ele sabe que não é fácil, mas nos leva à consciência do quanto podemos nos contaminar pela variável “acomodação”, como no seguinte trecho:
“Às vezes pode parecer impossível mudarmos nossas vidas profissionais, especialmente quando nos sentimos imobilizados por qualificações limitadas e a necessidade de pagarmos nossas contas. Simultaneamente, jogados na turbulência de uma crise econômica global, mudar pode parecer não apenas arriscado, mas até mesmo uma indulgência. Ainda assim, são exatamente nesses momentos de impasse ou crise que novas oportunidades podem surgir – não apenas na sociedade como um todo, mas em nossas próprias vidas”.
O restante desse livrinho ajuda a humanizar o trabalho, e faz refletir sobre questões existenciais maiores, relativas à vida profissional: faço um trabalho que realmente amplia meus horizontes e é grande o suficiente para minha alma? Será que trabalho demais – e será que pelos motivos errados? O que devo buscar por meio do trabalho – dinheiro, status ou uma consciência mais profunda de sentido e significado? Como supero meus medos e desenvolvo minha confiança para mudar?
Não temos mais que perseguir o modelo de vida de nossos pais. Ao contrário deles, o que não nos faltam são opções, mas no fundo, ainda queremos os valores de épocas que não existem mais. Embora o Brasil ainda se apegue a conceitos como estabilidade e segurança, conheci e tive a honra de trabalhar no desenvolvimento da comunicação de um projeto de pessoas que, sem querer, seguem a lógica do livro. A verdade é que eles foram além, e trazem os atributos essenciais do papel de uma empresa contemporânea. Acredito também que esse projeto pode ser um antídoto para a insônia de muita gente.
Falo do AREA, um hub empreendedor que já existe e dá seus primeiros passos em São Paulo, mas que muito em breve vai ser uma outra definição para a palavra mudança. Não são daqueles grupos de investimento tradicionais e míopes, muito pelo contrário. Nas palavras deles, a missão do AREA “é capacitar jovens a transformarem boasidéias em empresas lucrativas e com forte impacto positivo na sociedade, utilizando para isso soluções de conhecimento, tecnologias e conexões para jovens empreendedores alcançarem a realização pessoal e o sucesso de seus negócios.” Do plano de negócios aos investidores, passando por suporte intelectual, o AREA acompanha a realização do sonho.
Isso significa trazer definitivamente para o Brasil a noção de que empresas e suas marcas têm que ir além na relação de consumo. AREA traz uma perspectiva que já é realidade em outros países: o consumidor não quer apenas a troca de seu dinheiro por benefícios emocionais/funcionais de produto – quer saber o que a empresa faz para tornar o mundo um lugar melhor. Isso é impacto positivo, onde todos ganham pois se preservam. Por si mesmo, o AREA é a materialização dessa ideia, e nos ajuda a acreditar que isso é possível.
Sinto que muitos de nós têm medo de abrir mão do que o senso comum chama de conquistas profissionais. Mas olhando bem de perto, parece mais uma realidade miserável e sem criatividade, onde a única recompensa é o salário certo todos os meses (uma indenização por não se fazer o que quer?). O mundo corporativo não foi concebido para dar espaço à sua individualidade, já que empresas pedem por características que caibam em caixinhas predeterminadas. Assim, nesse círculo vicioso, o cinismo paralisa, o medo torna-se a norma, e a alma morre aos poucos.
O fato é que a vida de todos nós é 100% feita de incertezas. Mas acreditar que uma mudança é possível e agir para fazer acontecer, já acena que se tem no mínimo 50% de chance de sucesso. Seja como for, você já ganha muito.
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