16 agosto 2012
INOVAÇÃO - Até onde deve ir a personalização?
A fábrica da Whirlpool na cidade catarinense de Joinville produz 15 000 refrigeradores por dia. Enquanto boa parte dos 7 000 funcionários se dedica a fabricar as tradicionais geladeiras brancas, um grupo de dez pessoas deixa de lado a produção em massa para cuidar de itens sob medida.
São geladeiras em cores como azul-turquesa e que podem ter mais de 25 000 configurações de portas, prateleiras e puxadores. Além dos refrigeradores, a Whirlpool permite a personalização de fogões e de máquinas de lavar louça. Somados, os eletrodomésticos feitos sob encomenda representam uma parcela ínfima das vendas da companhia — que não divulga essa informação. Mas são considerados fundamentais para o futuro dos negócios.
A Dell foi uma das primeiras a inverter a lógica fordista de produção em série ao permitir, nos anos 90, que seus clientes configurassem os computadores. Mas apenas agora o avanço da tecnologia possibilita a produção de itens exclusivos a custos razoáveis em diversos mercados.
A mudança cultural também joga a favor da customização. As novas gerações cresceram acostumadas a poder fazer escolhas. Os smartphones são o maior exemplo: seus aplicativos permitem que cada pessoa crie o próprio celular.É improvável que existam dois aparelhos iguais em todo o mundo.
A customização tem uma vantagem óbvia: os consumidores aceitam pagar mais por produtos sob medida.
Alguns exemplos...
A Coca-Cola instalou 1 700 máquinas de refrigerante em restaurantes e cinemas dos Estados Unidos que oferecem 100 combinações de sabores. Com elas, os refrigerantes custam 30% mais do que nas máquinas tradicionais.
A Mars, que fabrica os chocolatinhos M&M, tem há cinco anos uma unidade de negócios dedicada à customização, chamada de Mars Direct. Ela permite que os consumidores imprimam qualquer desenho nos doces — que custam o dobro dos tradicionais.
A fabricante de móveis gaúcha Todeschini, com vendas de 1 bilhão de reais em 2011, comprou nos últimos anos máquinas específicas para itens customizados — elas têm mais opções de regulagens e podem ser reiniciadas com facilidade. Com elas, o tempo de produção dos móveis customizados caiu de 12 para três dias em três anos.
A fabricante de cosméticos O Boticário, por sua vez, criou uma nova empresa para separar os itens customizados dos tradicionais. Lançada em abril, a Skingen faz cremes para tratar o envelhecimento da pele. A fábrica e o laboratório ficam a 15 quilômetros da sede do grupo, em Curitiba. A empresa tem 16 pesquisadores que recebem amostras de pele e fabricam cremes individuais. O preço compensa o investimento: 500 reais o pote.
A próxima etapa da customização será o uso das impressoras 3D. São máquinas que podem fabricar qualquer coisa depositando finas camadas de matéria-prima. Como fazem um item de cada vez, elas acabam com a necessidade de escala. A tecnologia ainda é incipiente, mas, no futuro, cada pessoa poderá ter a própria impressora 3D — e, talvez, imprimir o próprio telefone.
Mas tanto individualismo levanta outro debate: a customização pode assustar o consumidor? Há alguns anos, a Procter & Gamble encerrou uma frustrada experiência de produtos customizados que oferecia 10 000 variedades de brilho para os lábios. Certamente, os consumidores não tinham tempo nem interesse para escolher entre tantas opções.
Os concorrentes da Chrysler afirmam que a montadora está indo pelo mesmo caminho. Em junho, a empresa lançou seu novo modelo, o Dodge Dart, que tem 100 000 combinações de cores e acessórios. Só para as rodas, são sete modelos. As críticas podem ser inveja da concorrência. Mas convém tomar cuidado. Oferecer mais opções pode ser o caminho mais curto para chegar a menos clientes.
Fonte: Exame
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