Em 1979, quando o filósofo francês Jean-François Lyotard lançou A Condição Pós-Moderna, ensaio que abordava o declínio da ideia de emancipação e de outras metanarrativas nascidas com o Iluminismo, a crítica acadêmica internacional se fissurou. De um lado, seguiram os fiéis ao projeto moderno, calcado na construção de um futuro melhor e na ideia de um “dever ser”; de outro, os que abandonaram as ideologias, e adotaram a convicção de que o hedonismo e o presente são a melhor resposta às obsessões totalitárias.
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Com esta introdução, Andrei Netto apresenta a entrevista que realizou com Luc Ferry, autor de alguns best seller e do novo A Revolução do Amor – Por uma Espiritualidade Laica, no qual diz que vivemos uma era de ruptura, e não estamos mais dispostos a nos sacrificar em nome de grandes ideias alheias, de utopias, mas sim em nome de nossos pais, filhos ou amigos. Um humanismo secular;uma espiritualidade sem fé. “Existem dois tipos diferentes de espiritualidade. Um age por meio de Deus e é, certamente, o conjunto das religiões; o outro, sem Deus, é o grupo das grandes filosofias”, explica ele no livro.
A ideia é que o casamento por amor criou uma nova ordem social. Quando "inventaram" este tipo de casamento, não mais por interesse, nasceu a família moderna, mudando nossa relação com a coletividade.
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É o que chamo de “segundo humanismo”. O primeiro foi o da lei e da razão. Era o do Iluminismo e dos direitos humanos, dos republicanos franceses e de Kant. O segundo humanismo é da fraternidade. Existe desde então uma única visão do mundo movida por este sopro de uma utopia possível. Porque o ideal que ela visa a realizar não é o das ideias revolucionárias. Não se trata mais de organizar os grandes massacres em nome de princípios mortíferos, mas de preparar o futuro para os que nós amamos, as gerações futuras.
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Netto questiona, então, se não há um desencantamento no mundo, já que não somos seguidores de um grande ideal. Ferry justamente coloca que não é o extermínio de uma espiritualidade, mas a expressão dela de outra forma.
Em seguida, questionado sobre a influência da globalização na mudança de valores e no hedonismo moderno, ele surpreende ao responder que foram as ideias de esquerda que emergiram com maior força o capitalismo,
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Foi necessário que os valores e as autoridades tradicionais fossem desconstruídas pelos boêmios, jovens de cabelos longos, libertários, para que o capitalismo, ele também moderno e fadado à inovação pela inovação, pudesse fazer entrar nossos filhos na era do grande consumo de massa sem o qual seu futuro globalizado não teria sido possível.
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Os valores tradicionais tiveram que ser descontruídos para possibilitar este consumo recorrente, que seria visto pelos nossos avós, por exemplo, com um grande acúmulo de bugigangas.
Apesar de em algum momento parecer pessimista, a ideia de Ferry é o contrário: essa nova ordem social possibilita uma transcendência sobre o humano, o outro. Ele acredita que seguimos para um segundo humanismo, no qual impera a autonomia e um pensamento recorrente: que mundo deixaremos para os nosso filhos?
É quase um egoísmo bom, no qual desejamos o melhor aos nossos entes mais próximos, à nossa família escolhido pelo amor, mas com um sentido de coletividade consequente.
Deu vontade de ler tudo!
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