Fonte: Rodrigo Afonso, repórter do COMPUTERWORLD
São Paulo – Redes sociais, celulares e programas de troca instantânea de mensagens fazem parte da vida dos jovens, mas nem tudo pode ser transportado para o trabalho.
Os profissionais que estão entrando no mercado de trabalho, pertencentes à chamada geração Y, estão bastante adaptados às novas tecnologias de interação e comunicação pela internet, mas não estão preparados para o que está por vir no futuro profissional.
A informação vem de um estudo da Accenture, realizado com jovens norte-americanos, que mostra que a nova geração de profissionais quer tecnologia personalizada no mercado de trabalho e, para a preocupação das empresas, não se preocupam muito com privacidade. Segundo o estudo, mais de 60% desses jovens não têm conhecimento das políticas de suas companhias em relação à tecnologia da informação ou não têm incentivos para seguir essas regras.
Mesmo sem a aprovação da empresa, muitos jovens utilizam tecnologias para seu dia a dia que não são fornecidas pelo empregador. Dentre elas, estão os celulares (39%), mensagens instantâneas (27%) e redes sociais (28%).
Para Roldofo Esenbach, analista da Accenture, essa realidade pode ser facilmente transportada para o mercado brasileiro. “Esses jovens, representantes da geração Y, nasceram com tecnologia, acesso virtual, ferramentas de compartilhamentos e de troca de idéias. É natural que eles queiram encontrar esse mesmo cenário no ambiente de trabalho, mas a realidade não é bem essa”, afirma.
De acordo com o analista, o ponto crítico é a vulnerabilidade de informações que isso gera. “Esses jovens precisam ter mais informação sobre as conseqüências de se divulgar informações corporativas. A falta de maturidade com relação ao risco da falta de privacidade permeia suas vidas pessoais. Quando isso é transportado para o mundo corporativo, o risco se multiplica”, diz.
Ricardo Basaglia, gerente da divisão de TI da Michael Page do Brasil, afirma que não há como evitar o choque que um jovem profissional vai sentir ao entrar em uma empresa do modelo tradicional. “Um jovem acostumado com o iPhone, onde instala e retira aplicativos com extrema facilidade, vai sentir um grande impacto quando tiver de lidar com um ERP totalmente travado. Ele sabe qual é o potencial da tecnologia, mas ainda não tem como entender por que a empresa necessita daquele sistema e não percebe que as mudanças são muito mais lentas no lado corporativo”, afirma.
Na visão do consultor, é desleal comparar a velocidade da internet e o ambiente corporativo. Enquanto a grande rede pode funcionar na base da experimentação, a empresa só pode incorporar tecnologias que estiverem 100% testadas e funcionais. “O processo de educação desses jovens passa por deixar isso muito claro para eles, até porque em pouquíssimos ambientes profissionais ele vai encontrar exatamente o que deseja em termos de tecnologia e de facilidades de comunicação”, complementa.
Segundo Robert Andrade, analista da consultoria Robert Half, é um desafio grande mostrar limites a esses jovens e mantê-los motivados ao mesmo tempo. “A empresa tem que definir sua política de acesso a informações e precisa divulgar isso para os jovens. Ao mesmo tempo, a gente percebe que aos poucos os jovens estão mais conscientes sobre a necessidade de manter a privacidade. Até as redes sociais estão implementando opções mais seguras”, afirma.
Para Andrade, ainda que precise tirar ferramentas dos jovens, as empresas precisam compensar com outros benefícios, como áreas de convivência, treinamentos e até mesmo na oferta de maneiras alternativas para que os jovens possam continuar se comunicando e trocando informações.
Como os demais analistas ouvidos pela reportagem, Andrade concorda que as empresas devem procurar entender um pouco melhor a dinâmica de trabalho dos jovens e estudar formas de garantir um pouco mais de flexibilidade no que diz respeito ao uso das novas tecnologias, ainda mais diante dos números do estudo da Accenture, que indica que 52% dos jovens afirma que a utilização do estado da arte em tecnologia é um fator importante na hora de escolher um trabalho.
Empresas buscam soluções
A Cast Informática, empresa de software, já experimentou dois cenários diferentes: um no qual todas as novas tecnologias da internet eram liberadas e um segundo momento, no qual houve a necessidade de se implantar um maior controle.
“Nossa empresa é bastante jovem. No começo, tudo era aberto: redes sociais, programas de mensagens instantâneas e todos os sites. A empresa, no entanto, começou a perceber que poderia pagar um preço alto por permitir tudo, pois poderia ser responsabilizada por qualquer coisa errada que fosse feita por meio de sua estrutura, que inclui até o e-mail corporativo”, afirma Eduardo de Paulo Rocha, gerente de comunicação e marketing da empresa.
O desafio, a partir do momento que as ferramentas passaram a ser bloqueadas, era o de educar essas pessoas sobre os limites do uso dessas ferramentas, principalmente na fábrica de softwares, em Araraquara, que possui cerca de 300 funcionários com até 24 anos de idade. A solução encontrada pela Cast foi a de realizar um treinamento de cerca de seis meses antes que os jovens pudessem virar funcionários da empresa. “Elas necessitam disso, são profissionais que ainda não tiveram contato com o mundo corporativo.
Ainda assim, a empresa entende a necessidade de flexibilizar as regras para atender um pouco dos anseios da nova geração, que é muito mais produtiva quando consegue compartilhar informações e manter contato constante com amigos e família.
A alternativa encontrada pela Cast foi implantar sistemas internos, como o mensageiro instantâneo Spark e uma rede social para funcionários. “O mensageiro traz até mais produtividade, pois funcionários de Brasília, Araraquara e outras cidades se comunicam o tempo todo para tirar dúvidas sobre questões corriqueiras dos seus trabalhos, como SQL, banco de dados, entre outros”, enumera Rocha.
A rede social interna ajuda em duas frentes: além de oferecer uma ferramenta moderna para os funcionários, ainda ajuda com que todos conheçam as pessoas com as quais se está trabalhando. “Na verdade, trata-se de uma intranet mais dinâmica e adaptada aos padrões atuais de redes sociais”, diz Rocha.
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