24 janeiro 2008

ARQUITETURA - Envelope Transparente

Fonte: Especial PINI 60 anos - Fachada-cortina


Sinônimo de contemporaneidade arquitetônica, as fachadas-cortina progrediram nas últimas décadas tanto tecnologicamente quanto em design. Entretanto, um novo salto evolutivo é aguardado, com a fachada deixando de ser apenas um invólucro para contribuir efetivamente para o bom desempenho térmico da edificação.


Arquitetos como Mies van der Rohe e Gordon Bunshaft, entre 1940 e 1970, já exploravam a transparência e fluidez singulares proporcionadas pelas amplas fachadas envidraçadas. O que eles talvez não desconfiassem é que a tecnologia relacionada à fachada-cortina fosse avançar tanto – e tão rápido. Nas últimas décadas, sem detrimento da capacidade de vedação, métodos de fixação mais avançados permitiram abreviar o tempo de instalação, assim como o ocultamento dos perfis metálicos, agregando leveza visual principalmente à arquitetura corporativa e ao chamado International Style. Além disso, enquanto no passado a estanqueidade era garantida por acessórios importados ou produzidos sob medida por fabricantes de esquadrias, hoje há fábricas especializadas em sistemas modulares de fachada-cortina.

Os componentes, por sua vez, também melhoraram permitindo às fachadas atuais usar menos náilon e mais aço inoxidável, ter os ajustes de freios mais eficientes e, finalmente, qualidade mais uniforme graças à produção em série.

Definida como um sistema de vedação vertical formado por placas ou painéis fixados externamente por uma subestrutura auxiliar – e aí a vedação pode ser tanto vidro quanto outros materiais, como pedras –, a fachada-cortina apresenta evolução progressiva ao longo do tempo. No Brasil, a primeira aplicação do sistema aconteceu no Centro Cândido Mendes, na rua da Assembléia, centro do Rio de Janeiro. No prédio de 43 andares projetado nos anos 1970 pelo arquiteto Harry Cole, os vidros foram encaixilhados com perfis de alumínio, formando quadros presos por ganchos às colunas contínuas e travessas. "Nesse tipo de fachada, as colunas ficavam externas, marcando a vertical do edifício e interferindo bastante com a arquitetura do prédio", comenta Luis Cláudio Viesti, consultor técnico da Afeal (Associação Nacional dos Fabricantes de Esquadrias de Alumínio).

Segundo Viesti, já naquela época os arquitetos ansiavam por fachadas mais neutras, sem elementos que evidenciassem tanto a verticalidade como a horizontalidade. Foi isso que motivou o desenvolvimento do sistema pele de vidro poucos anos depois. A coluna agora se voltava para o interior do edifício e a área visível de alumínio na face externa pôde ser minimizada, chegando a aproximadamente 38 mm ao longo de todo o perímetro do quadro. Embora o vidro permanecesse encaixilhado com o apoio de gaxetas e ganchos, foi possível que as folhas móveis da pele de vidro fossem instaladas sem marcar a fachada, ao contrário do que ocorria até então.

Apesar do avanço, menos de dez anos depois uma nova solução, o structural glazing, foi criada em Miami, nos Estados Unidos, em resposta à demanda dos arquitetos que queriam eliminar de vez a interferência visual dos perfis de alumínio e obter uma fachada que revelasse apenas vidro. "A novidade foi que toda a estrutura de alumínio pôde ser finalmente ocultada no interior do edifício. Os vidros passaram a ser fixados por meio de silicones estruturais pela face externa dos caixilhos, tornando as fachadas mais leves e transparentes", conta o engenheiro e consultor Amaury Siqueira, diretor técnico da Techné Engenharia. Tal resultado estético, entretanto, não deve prescindir do desempenho da fachada, ressalta Siqueira, lembrando que a colagem não pode ser feita aleatoriamente e requer o dimensionamento da profundidade e altura do silicone obtida em cálculos que consideram a espessura, peso e dimensões do vidro.

Até por possibilitar uma extensão maior de vidro nas fachadas, o sistema sempre teve seu desempenho térmico diretamente associado à qualidade do material utilizado e ao uso de perfis com barreira de fluxo térmico. Nesse sentido, segundo Siqueira, a indústria aprimorou sua oferta, em especial, de vidros laminados com polivinilbutiral (PVB) e refletivos que, além de assegurar isolamento térmico, garantem segurança às fachadas. Outra opção para agregar qualidade térmica às fachadas-cortina é o vidro duplo insulado com persiana interna. Essa composição, aliás, é apontada pelo engenheiro Nelson Firmino, consultor e diretor da Aluparts Engenharia, como tendência em função da crescente exigência por conforto ambiental e economia de energia.

Estado-da-arte
A atenção ao desempenho das fachadas e a procura pela racionalização dos processos construtivos propiciou, nos últimos vinte anos, o desenvolvimento de duas soluções cada vez mais exploradas.

A primeira, conhecida no mercado como Spider Glass (SGG), foi especificada no Brasil em projetos como o Centro Brasileiro Britânico, em São Paulo, do escritório Botti & Rubin, e depois se disseminou, marcando presença em fachadas de pequeno e médio porte mas de alto impacto visual. Nesse sistema, que dispensa caixilhos e silicone estrutural, os vidros são presos pontualmente por peças articuladas fixadas a uma estrutura portante metálica.

Outra recente evolução das fachadas-cortina foram os módulos unitizados, que chegaram ao País no final da década de 1990 e rapidamente se incorporaram ao repertório de soluções para arquitetura comercial e institucional. Nesse sistema, a fachada é composta por painéis independentes estruturados com vidro, porcelanato ou granito, içados com o auxílio de guindastes e fixados com ancoragens reguláveis. A montagem é mecanizada e dispensa balancins, abreviando o cronograma e reduzindo custos com mão-de-obra. "O sistema unitizado de perfis com vidros tem contribuído para incrementar o emprego de fachada-cortina", afirma Firmino. Os painéis são totalmente pré-fabricados, o que aumenta o controle tecnológico e garante maior qualidade de fechamento à fachada. "Com isso, diminui-se a probabilidade de infiltração além de racionalizar o processo construtivo da fachada", ressalta Amaury Siqueira.

Após incrementos tecnológicos que além de melhorar o desempenho das fachadas, ampliaram as possibilidades de design, a evolução das fachadas-cortina tem rumo certo: a introdução de requisitos relacionados ao conforto ambiental e a economia de energia. De acordo com a arquiteta Cíntia Mara de Figueiredo, especialista em fachadas, tais requisitos devem fazer as fachadas-cortina incorporarem dispositivos para controlar a transferência de calor entre o meio externo e os ambientes internos tanto pelos perfis de alumínio quanto pelos vidros, além de controlar a acústica, aproveitar a iluminação natural e principalmente utilizar a ventilação natural. "Já é possível perceber a preocupação de alguns arquitetos em projetar construções sustentáveis, em busca do Leed, certificação norte-americana para edifícios-verdes", acrescenta Siqueira, que acredita que tal contexto é favorável à especificação de soluções como as fachadas ventiladas com placas de grês porcelanato. "A camada de ar que se forma entre as placas e a estrutura do edifício funcionam como isolante térmico entre o exterior e as paredes, eliminando as pontes térmicas, diminuindo o consumo de energia para o condicionamento do ar no interior da construção e os efeitos da dilatação térmica da estrutura", diz o consultor.

O desenvolvimento de fachadas fotovoltaicas também é visto como tendência, já que mais do que envolver o edifício, aproveitam a radiação solar como energia, contribuindo para o melhor desempenho energético-ambiental para as edificações. No Brasil, a indústria da construção civil ainda não absorveu o sistema. Mas na Europa, a fachada fotovoltaica está entre as soluções utilizadas para ganhos em eficiência energética e altíssimo desempenho ambiental das edificações, informa Figueiredo.

Uma mostra disso é a formação de um pool de empresas (Basf, Bosch, Merck e Schott) que tem trabalhado com o apoio do governo alemão para incrementar o uso desse tipo de sistema em grandes áreas e desenvolver em grande escala, até 2015, películas transparentes e flexíveis, capazes de transformar luz em energia. A idéia é obter um material que, diferentemente das rígidas células fotovoltaicas atuais, possa ser curvado, enrolado e conformado.
24/01/2008

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