Por Guilherme Soares
Fonte: UpdateorDie.com e diariopopularpr.com.br
"Imaginem só a cena: você tem um sobrinho que precisa de um leito de UTI, e pode bancar hospital particular mesmo, mas não tem leito, porque está tudo ocupado com pessoas com mais de 60 anos. O que vai acontecer? Você vai pensar (ou dizer em voz alta, dependendo de seu auto-controle): “Meu sobrinho tem a vida inteira pela frente, esse velho já viveu a dele!” É o que basta. Está dado o sinal de uma guerra civil emergindo, no caso, guerra intergeracional." Brincadeiras à parte, de acordo com diversas pesquisas, essa é a tendência para o cenário futuro do país.
No período 1950-1960, a taxa de crescimento da população recuou de 3,04% ao ano para 1,05% em 2008. Mas, em 2050, a taxa de crescimento deve cair para –0,291%, que representará uma população de 215,3 milhões de habitantes. Segundo as projeções, o país apresentará um potencial de crescimento populacional até 2039, quando se espera que a população atinja o chamado “crescimento zero”. A partir desse ano serão registradas taxas de crescimento negativas, que correspondem a queda no número da população. Vale ressaltar que se o ritmo de crescimento populacional se mantivesse no mesmo nível observado na década de 1950 (aproximadamente 3% ao ano), a população brasileira chegaria, em 2008, a 295 milhões de pessoas e não nos 189,6 milhões divulgados pelo IBGE.
Os números projetados assustam mesmo: em 17 anos, o Brasil deve dobrar a proporção de idosos – de 9% para 18% da população total. Em 2025, serão 32 milhões maiores de 60 anos e, em 2050, 70 milhões. Para comparar, os idosos da França dobraram de 7% para 14% do total em 115 anos, e a França já era um país rico – que continuou rico. Ou seja, a França teve tempo e recursos para implantar políticas específicas de enfrentamento do problema. (E ainda assim morreram 15 mil velhinhos lá naquela onda de calor uns anos atrás porque não abriam a janela.)
O Brasil, está acostumado a ser um país jovem, vai “envelhecer de virada” e, sem um planejamento bem feito, vai acabar desviando recursos dos programas de saúde da mulher, da criança e do trabalhador para tratar dos idosos. A tensão social decorrente dessa disputa pode ser gravíssima. Quem faz o alerta numa entrevista à HSM Management é o Alexandre Kalache, médico gerontologista carioca que chefiou o Programa de Envelhecimento e Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS) por muito tempo e foi professor de Oxford, e hoje é conselheiro do presidente da New York Academy of Medicine, além de embaixador global da organização não governamental HelpAge.
Fato é que essa virada etária vai influir muito no consumo, na produção, nas relações de trabalho, no marketing e na estratégia das empresas, porque tende a transformar a sociedade de modo geral. Mesmo que o governo não pense, melhor a gente pensar nisso, tanto como oportunidade quanto como ameaça. Imaginem só, por exemplo, o quanto mudará nos serviços de alimentação, de hospital e de transporte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário