23 julho 2008

ECONOMIA - Análise Brasil por presidente HSBC Brasil

Fonte: Época Negócios

Shaun Wallis, executivo britânico que acaba de assumir a presidência do HSBC Brasil, afirma que o país se mostra relativamente estável frente à grave crise na economia mundial.

Shaun Wallis, o novo presidente do HSBC no Brasil, viveu em vários países antes de instalar-se no eixo São Paulo-Curitiba, onde estão as duas sedes do banco. Ao longo de sua carreira de 30 anos no grupo, esse executivo britânico morou em Hong Kong, Nova Zelândia, Suécia, Inglaterra e Malta – e passou temporadas menores na Turquia, Grécia, França e em Nova York. Mas não conhecia a América Latina em geral, nem o Brasil em particular. Por isso, em seu primeiro encontro com a imprensa brasileira, nesta terça-feira (15/7), em São Paulo, declarou-se de cara “um perfeito recém-chegado”. Visivelmente entusiasmado com seus primeiros dois meses no país, Wallis faz um paralelo com o pedaço da Ásia que ele viu emergir nos anos 80. “Penso nisso quando vejo o número de celulares e o de carros nas ruas daqui”, diz. O presidente do HSBC, no entanto, vê um diferencial importante no Brasil: “Seu país tem terras, água, recursos minerais e mão-de-obra relativamente barata em abundância. É um dos países mais excitantes para se estar em 2008”.
E talvez um dos mais seguros também, dada a crise na economia global. “O que está acontecendo é quase como um filme catástrofe de Hollywood”, afirma Wallis. “Países estão afundando, porque não podem bancar os preços da comida e da energia.” É uma “crise sem precedentes” que, segundo ele, tende a se agravar, na medida em que a explosão dos preços dos alimentos provoque um surto de fome em muitos países da Ásia e da África. “O Brasil é um subcontinente tão grande que talvez as pessoas não se dêem conta do que está acontecendo ao redor do mundo”, diz.

Wallis afirma que a primeira onda da turbulência financeira criou uma crise de liquidez no mercado americano. Agora, a falta de liquidez está afetando o resto do mundo. “Quando você pensa em um banco suíço pensa em algo muito sólido e não em uma instituição em dificuldades, perdendo bilhões. Mas hoje o que vemos são bancos americanos, britânicos e mesmo suíços sofrendo com os saques feitos pelos clientes”, diz o executivo. “Muitos deles não têm capital suficiente, porque emprestaram demais. Por isso, muitas empresas no mundo todo estão achando difícil conseguir dinheiro no momento.”

Reflexos no mundo todo
Como isso vai afetar o Brasil? “Bom, estou aqui há ‘dois minutos’, mas a visão do banco é que o senhor [Henrique] Meirelles, presidente do Banco Central, está agindo corretamente para conter a inflação. É claro que há um debate sobre o fato de aumentos de juros reduzirem o crescimento da economia, mas essa discussão está em pauta no mundo todo.”
O presidente do HSBC vê movimentos contraditórios acontecendo. Alguns investidores tiram dinheiro do Brasil, e outros trazem recursos novos para o país. Os primeiros estão vendendo ativos líquidos aqui e levando o dinheiro de volta para seus países. Os demais, apostando no fato de que ativos no Brasil (ações, imóveis, etc.) oferecem retornos altos, se comparados a equivalentes nos países desenvolvidos. Wallis não diz quem está certo e quem está errado. Mas observa que a economia brasileira está muito voltada para o mercado doméstica e, por isso, se mostra relativamente estável em tempos de turbulência internacional.

Com 52 milhões de clientes nos Estados Unidos, o HSBC obviamente está exposto à chamada “crise do subprime”. Wallis relata, no entanto, que desde fevereiro do ano passado, quando o problema no mercado americano de hipotecas de baixa qualidade foi diagnosticado, o banco montou pesadas provisões para créditos de difícil liquidação. “É assim que nós somos: terrivelmente conservadores”, afirma. Por isso, diz ele, o HSBC não está em perigo. “Ao contrário de grandes bancos americanos e britânicos, nós não temos de vender ativos a qualquer preço para fechar nossas contas.”

Bamerindus
Wallis diz que, há dez anos, logo depois de comprar o Bamerindus, o HSBC teve como primeira meta no Brasil transformar o banco adquirido em uma instituição com a cara do grupo. Depois, a tarefa era integrar o banco ao sistema multinacional da corporação. “Feito isso, nossa estratégia não é competir com o Bradesco, com o Unibanco ou com qualquer outro banco local. Até por que o interesse do cliente não está em saber se estamos ou não entre os maiores do Brasil. Queremos oferecer serviços da melhor qualidade a um preço justo.”

Sem citar seu antecessor [Emilson Alonso, hoje presidente do grupo para a América Latina e o Caribe], Wallis diz que, nos últimos anos, “ficamos muito brasileiros no Brasil”. Ou seja, o HSBC passou a funcionar quase como se fosse um banco local. “Agora, é importante relembrar quem somos e quais são nossas vantagens competitivas. Basicamente, a capacidade de oferecer a maior gama possível de produtos, porque estamos vendo o que os mercados demandam na China, na Índia, no México e assim por diante”, afirma o novo presidente. O objetivo é ter serviços no mundo todo para executivos que viajam freqüentemente, por exemplo.

Questionado sobre a falta de agressividade do HSBC, evidenciada numa comparação com a estratégia do Santander, Wallis é provocativo: “Eu não sei se agressividade é o que os clientes esperam de seus bancos agora...”.
23/07/2008

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